Eu olhava fixamente para uma moeda e considerava acerca das virtudes do dinheiro. Um homem de preto veio e me disse:
- Pode esperar, cavalheiro, que logo vem sua mercadoria.
Enquanto eu esperava, o homem pôs-se na minha frente e se transformou num espelho. Olhei no espelho, botei a língua para fora e a examinei. Continuei olhando em minha língua até que ela se transformou numa vitrine de loja. Visto que na vitrine não se via nada, entrei na loja. Estava vazia. O que mal se enxergava era somente uma porção de pacotinhos, os quais eram dispostos de seguinte maneira: dois menores sob um maior, de modo a formar uma pirâmide.
- Leve sua mercadoria, cavalheiro – disse uma voz atrás de mim. Quando virei, vi aquele homem que vira antes de preto, mas agora ele trajava branco.
- Como farei para pegar os pacotinhos? – perguntei eu encabulado. Se me é quase impossível ver os pacotinhos, como haverei de pegá-los?
O homem respondeu-me:
- Embora os olhos sejam testemunhas mais fiéis que os ouvidos, às vezes estes ouvem coisas que aqueles não vêem. Aproxime seus ouvidos dos pacotinhos.
Segui sua ordens e fui chegando meus ouvidos para mais perto dos pacotinhos, os quais iam se tornando cada vez mais visíveis. Quanto mais eu enfiava minha cabeça no meio deles, mais notava que tinham semelhança de bocas que proferiam sons. As duas boquinhas e baixo soavam em dueto e não desafinavam. A boquinha superior, maior, tinha a faculdade de, ela sozinha, reproduzir o dueto das duas boquinhas inferiores. Fiquei maravilhado e ex-clamei:
- Esta é de fato a melhor articulação da língua, aliás, o melhor artigo da loja!
E o homem falava coisas magníficas. Conforme o homem articulava as palavras, notei que minha boca também mexia. Foi ai então que vi que, conforme um fazia, da mesma forma o outro fazia. Dei um passo em sua direção. Ele deu um passo em minha direção. Fomos nos aproximando. Quando estávamos bem perto, notei que ele se parecia comigo. Para falar a verdade, éramos idênticos!
De repente, ouvi um tinido de moeda que cai. Voltei a mim. A moeda havia caído da minha mão e rodava calçada abaixo. Esqueci-me da lição que havia aprendido na loja e (que coisa infeliz...) lá fui eu correndo atrás do dinheiro...
28 de dez. de 2009
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