E eu peguei aquela mania doida de juntar cabelo. Todo e qualquer fio capilar que achasse levava-o para o forro de minha casa. Ali havia muito espaço. Com o passar dos anos eu já havia conseguido uma pelota enorme de cabelo. Era uma bola tão grande que só aos poucos seria possível retirá-la dali. E eu de fato começava a pensar em me livrar dela, pois o forro já estava cedendo.
- Estou procurando um meio de me livrar deste cabelo todo em tempo menor do que levei para juntá-lo – disse eu ao meu amigo em tom preocupado ao meu amigo. – Se não conseguir estou perdido.
- Sempre há um meio para se livrar de uma mania – respondeu-me. – Desde o principio eu sabia que tal coisa não acabaria bem.
O pior era que, se o forro viesse abaixo, cairia tudo exatamente em cima do meu leito. Se desabasse durante o dia, eu talvez ainda pudesse escapar. Mas imagine se aquilo tudo desce durante a noite, na hora em que eu estivesse dormindo!
- Já sei o que fazer! – exclamei com alegria na certeza de ter havia encontrado a solução. – Vou abandonar esta casa!
Qual não foi meu pavor quando, tentando abrir a porta, não consegui fazê-lo. Maior foi meu pavor quando notei que nem mesmo as janelas eu conseguia abrir. Estava preso em minha própria casa!
- Não perca a esperança – falou-me ele, pois não queria que desanimasse. – Sempre há uma fresta por onde entra um raio de luz.
O forro começo a estalar. Então meu desespero aumentou. Eu chorava tanto... Lamuriava eu:
- Ah, misera vaidade humana!... Se Ele me perdoasse... O que poderá me redimir do crime de juntar pelota de cabelo no forro?
Foi então que meu amigo me alertou, dizendo:
- Veja Washington, que a viga da cumeeira de sua casa é de madeira oriental. Estou certo de que ela agüentará muito. Persista. A luz entra pelo telhado.
Aquilo me animou. Havia, contudo, um pormenor: eu não conhecia o telhado! O único que poderia me ajudar seria meu amigo. Falei a ele:
- Você está familiarizado com a região do telhado. Abra uma fresta lá para mim.
Estranhei a atitude do meu amigo, o qual não me deu resposta. Gritei o Maximo que pude e mesmo assim não obtive resposta. Foi então que me veio à memória a milenar prescrição: “Não dê descanso aos seus olhos e amole o seu amigo dia e noite”. Foi o que fiz. Embora chorasse muito, prostrava-me e amolava o eu amigo de dia e de noite. Por fim ele veio e me disse:
- Eu vou abrir um buraco na parte da viga da cumeeira que fica do lado oriental da casa.
Tão magistralmente ele o fez, que me era possível ver o sol oriental subindo por entre as árvores... Então meu pranto rolou copiosamente, mas de alegria. O raio solar entrava pelo buraco do telhado e incidia sobre a pelota de cabelo no forro. Não demorou muito tempo para que a cabeleira se transformasse em cinzas. Uma brisa oriental soprou levemente através do buraco do telhado e levou consigo todo o resto do incêndio. Dei um SUSPIRO DE ALIVIO... O meu amigo me chamou:
- Venha cá para cima, menino cabeludo!
Fui, dei-lhe a mão e ele me puxou. Ele começou a pegar no meu corpo e a me erguer. Tomando-me pelos cachos do cabelo de minha cabeça, elevou-me acima do telhado. Dali eu enxergava o campo e a cidade. Que visão singular!...
- Isto, em absoluto, não se deve fazer: pelota de cabelo no forro! – lembrava-me meu amigo.
28 de dez. de 2009
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