Homem dos Anjos era o nome dele. Nome que casava direitinho com a sua bondade de coração. Já velho, cabelos grisalhos, só tinha contra si a indignação do povo ante a sua insistente busca do filho que nunca tinha visto. A busca do filho o atormentava que já estava ficando até alucinado.
Mas ninguém sabia o porquê dessa busca tão ansiosa. A solidão da velhice era tanta, que só o filho, o único, poderia lhe dar consolo e conforto. Ainda mais que se aproximava o Natal. Passar um Natal de uma velhice sozinha é dor que filho nenhum deveria causar...
E ele chegou até a botar avisos nas estações de rádio e televisão, perguntando pelo paradeiro de seu filho. Foi a policia, aos jornais, a todos os lugares que poderiam de algum modo lhe ajudar na busca do filho que nunca tinha visto.
Um dia foi a policia, e o delegado lhe perguntou:
- Qual é o nome dele?
- Nazareno dos Anjos! – respondeu.
- O nome da mãe? – perguntou o delegado.
- Maria Imaculada dos Anjos – respondeu.
- O Nome do pai?
- Homem dos Anjos!
- Vamos ver o que podemos fazer para ajudar o senhor! – disse o delegado.
Mas foi em vão. Ele não conseguia encontrar o filho amado que lhe daria conforto.
Quando estava no auge do desespero, eis que surge uma esperança: um telefonema do filho!
- Papai? Aqui é o Nazareno! Vou lhe buscar neste Natal, papai!
- Nazareno! Nazareno!
Homem quis continuar falando, mas seu filho desligou. Mesmo assim seu contentamento era tanto, que não saiam da cabeça aquelas palavras confortantes: Vou lhe buscar neste Natal, papai!
Foi chegando o Natal. O filho, contudo não aparecia. Homem começou a ficar entristecido. Já não mais media seus atos, dando peitadas pelos postes, gritando e caindo pelas ruas. Foi então que houveram por bem entorná-lo no sanatório. Vieram os terríveis homens de branco e o levaram delirante.
Lá no sanatório, uma enfermeira sentiu muita pena daquele ser e perguntou ao médico:
- Por que o filho deste homem não vem lhe ver?
- Sou clinico geral e psiquiatra, minha filha – disse o médico – este paciente não é casado, não tem filhos e é estéril. Sei disto porque ele foi meu paciente por muitos anos atrás.
- Mas, e o filho que ele tanto procura? – indagou a enfermeira.
- Alucinação! – respondeu o médico.
E os enfermeiros, aos chutes e murros, foram levando Homem para a cela. Amarraram-no ensangüentado numa cama pequena e dura de uma cela fétida e o deixaram só.
Aproximava-se a meia-noite, e o coro da capela vizinha entoava “Noite Feliz”. Homem, então, chorou amargamente o abandono... Era noite de Natal e seu filho não aparecia... Lamentou: Meu filho... Por que você não veio?!... Por que você me deixa assim abandonado!...
Neste instante, enquanto o coro da capela entoava “Noite Feliz”, um áureo facho de luz penetrou por entre as grades da janela da cela imunda. Então homem viu um rosto jovem e sereno que lhe disse:
- Papai, vim lhe buscar, assim como prometi...
- Quem é você? – indagou espantado Homem.
- Eu sou Nazareno, o Filho de Maria Imaculada, o Filho do Homem... – respondeu-lhe o jovem.
- Meu filho, você está todo ensangüentado! Será que os enfermeiros bateram também em você? – perguntou Homem entristecido.
- Sim... – respondeu.
- Mas não importa. Venha comigo. Eu prometi que viria buscar-lhe no Natal. E eu vim. Venha, papai...
Home, então, não contendo a alegria do seu coração, balbuciou um “meu filho...” terno e carinhoso e, com uma lágrima em cada lado do rosto, expirou sorridente...